Toque estimula neurogênese: o cérebro responde e produz novas células nervosas:
Por Julieta Ueta:
Quando Fred H Gage comenta em um site da doença de Huntington (http://hdlighthouse.org/research/brain/updates/0059neurogenesis.php) que por praticamente 100 anos a NEUROCIÊNCIA abraçou o DOGMA de que o cérebro em um adulto permanece estável, sem mudanças, como um computador com memória limitada e poder de processamento definido, pergunto-me o que mudou nestas últimas décadas.
Muita coisa mudou. Descobriu-se que o cérebro pode se modificar, se regenerar, responder a estímulos. A NEUROGÊNESE é real.
A   ciência sabe há tempos que células da pele, do fígado, coração, rins e   do sangue podem ser substituídas. Podem se regenerar. Não se  acreditava  que as células nervosas se regenerassem. O que estava com  elas, com elas  se perdia, à medida que as células morressem. E a  memória ia, assim,  embora? Acho que não.
Fred   H.Gage é do laboratório de Genética que pesquisa doenças   neurodegenerativas relacionadas à idade, no Salk Institute. Gage   concentra seus esforços no sistema nervoso central e sua inesperada   plasticidade e adaptabilidade a estímulos ambientais que se mantém por   toda uma vida adulta em mamíferos.
A   história da neurogênese em adultos é uma teoria científica que está se   modificando. Neuroanatomistas como Ramón e Cajal acreditavam que o   sistema nervoso era imutável e incapaz em regeneração. Em 1962 Joseph   Altman apresentou a primeira evidência de neurogênese em mamíferos   adultos no córtex cerebral. Não lhe deram crédito. Nos anos 80 novas   evidências sólidas surgiram, mas ainda existia certo ceticismo. Foi   somente na década de 90 que esta área de pesquisa ganhou a devida   prioridade. Nesta mesma década foi demonstrado neurogênese em primatas   não humanos. Aves, coelhos, ratos, camundongos têm sido empregados pela   ciência para provar a existência da regeneração nervosa.
Atualmente   com muitos avanços, a ciência aceita que novos neurônios são   continuamente sintetizados durante toda a vida adulta, principalmente em   2 regiões do cérebro, uma delas o bulbo olfativo e outra no hipocampo.   Células que nascem podem morrer logo, mas parte delas torna-se   funcionalmente integrada a um tecido cerebral circundante. Novos   experimentos têm mostrado que outras regiões do cérebro são capazes de   neurogênese.
A   relevância funcional da neurogênese em adultos é incerta, mas há  alguma  evidência de que a neurogênese adulta no hipocampo é importante  para a  aprendizagem e memória. Mecanismos múltiplos para a relação  entre a  neurogênese aumentada e cognição melhorada têm sido sugeridas,  incluindo  as teorias computacionais para demonstrar que novos neurônios  aumentam a  capacidade de memória, reduzem a interferência entre  memórias, ou  acrescentam informações sobre tempo às memórias.
Neurogênese   está sendo relacionada a vários fatos e condições além de aprendizado.   Estados de estresse, depressão parecem ter relação com o nível de   neurogênese. Quanto mais melhor,mas se ausenteou inibida é sinal de   condições ruins.
Recentemente,   no entanto, neuroimmunologista Michal Schwartz, do Instituto Weizmann   de Ciência e seus colegas descobriram proliferação de células   progenitoras neurais no corno dorsal da medula espinal do camundongo.   Como esta parte da medula espinhal é conhecido por ser predominantemente   composto por neurônios sensoriais, " tivemos uma idéia de que esses   novos neurônios, estão participando de sensação de dor e/ou de toque",   disse Schwartz. (http://www.the-scientist.com/news/display/57809/)
Michal   Schwartz é uma cientista chefe do laboratório de Imunologia da Mente  na  Saúde e na Doença, do departamento de Neurobiologia do conceituado   Instituto Weizmann de Ciência, em Israel.
Para   testar essa ideia, os pesquisadores colocaram os camundongos em  gaiolas  contendo papel macio, cascalho, ou substrato, esponja ou uma   combinação, por duas horas e medindo-se a produção de novas células na   medula espinhal. Apenas duas horas após a exposição a ambientes   enriquecidos, os animais mostraram um aumento dramático no número de   novas células no corno dorsal. A quantidade de neurogênese foi maior em   camundongos expostos a ambientes com uma combinação de tipos de   substrato, sugerindo que a proliferação celular pode ser uma resposta   não só para a novidade de um ambiente, mas para a sua diversidade   também.
Em   novembro de 2010 saiu publicado os resultados destes experimentos em   camundongos na revista Molecular Psychiatry com o título:Touch gives new   life: mechanosensation modulates spinal cord adult neurogenesis,  (Toque  dá nova vida: mecanosensação modula neurogênese em espinha  dorsal de  adulto) de autoria de R Shechter, K Baruch, M Schwartz and A  Rolls.
Enfim,   camundongos expostos a estímulos táteis novos produzem neurônios ainda   para amadurecer, na espinha dorsal, sugerindo que a neurogênese tem um   papel no toque e vice versa
"Este   é um resultado muito interessante e inesperado", disse o  neurocientista  Pierre-Marie Lledo do Instituto Pasteur, na França, que  não está  envolvido nesta pesquisa. A neurogênese na medula espinhal foi   predominantemente documentada só in vitro, disse ele. "Para ver se   realmente há neurogenesis in vivo no corno dorsal da medula espinhal é   bastante intrigante e muito interessante", e sugere um novo mecanismo   pelo qual os organismos podem ser capazes de processar ambientes   complexos táteis, observou Lledo.
O   grupo de pesquisa do neurocientista Pierre Marie Lledo do Instituto   Pasteur na França está interessado em entender as bases neurais e   celulares da percepção sensorial, aprendizado e memória em roedores. Por   que estudar memória e aprendizado usando roedores como ratos e   camundongos? Como diz o pesquisador, o camundongo aprende rápida e   efetivamente em condições tanto espontâneas quanto em condições de   estresse, como no ambiente laboratorial. O grupo procura obter repostas   para entender de maneira mais completa os mecanismos de plasticidade   envolvidos no sistema olfatório de mamíferos.
"Não   esperavamos ter esse efeito incrível", disse Shechter Ravid, um   estudante de pós-graduação no laboratório de Schwartz, que ajudou a   executar os experimentos. "Foi uma resposta muito rápida ao meio   ambiente." "Foi uma grande surpresa", concordou neuroimunologista e   co-autor Asya Rolls, que trabalhou no laboratório de Schwartz e que   atualmente é um pós-doutor na Universidade de Stanford. "A neurogênese é   um componente adicional que nunca foi sequer sugerido neste domínio da   sensação de toque.”
Para   testar o papel da neurogênese em habituação a estímulos, a equipe  expos  os cmundongos a ambientes repetidamente durante um período de 7  dias,  ou os manteve permanentemente nas gaiolas enriquecidas. Em  contraste com  os experimentos de exposição única, exposições repetidas  não resultaram  em aumento da neurogênese, e a exposição contínua até  parece inibir o  processo.
Os   neurônios imaturos tendem a morrer dentro de quatro semanas, no   entanto, Lledo observou, o que leva à morte neuronal não é claro, mas   ainda em tenra idade, esses neurônios podem estar ativos. "A mesma   categoria de neurônios na mesma idade no bulbo olfativo, são capazes de   demonstrar uma semana após o nascimento que de fato liberam GABA."   Assim, embora estes neurônios não cheguem a amadurecer, eles ainda podem   ter habilidades funcionais, disse.
De   fato, os resultados mostram uma impressionante semelhança com o   processo de neurogênese em adultos no bulbo olfativo, disse Lledo, onde a   exposição a odores diferentes estimula a proliferação celular, como   demonstrado. "Se você olhar para o cérebro de um camundongo vivendo em   uma gaiola muito limpa e enjoativa, o número de neurônios é bastante   reduzido, mas assim que você altera os odorizantes a cada dia, você   estimula os neurônios dois ou três vezes." Assim, o processo de   neurogênese e diferenciação pode ser "um fenômeno mais geral de   plasticidade nos órgãos sensoriais".
Os   autores comentam no resumo do artigo que em se apresentando a   neurogênese em adultos como um mecanismo potencial de resposta a um   estímulo novo e de habituação a repetidas exposições sensoriais, isto   abre novos rumos potenciais no tratamento da hipersensibilidade, dor e   outros distúrbios mecanosensoriais.
Trabalhos   como o de Fred H. Gage do Salk Institute podem levar a métodos que   possam ajudar no caso de doenças degenerativas ou traumas. Seu grupo   mostrou que o enriquecimento ambiental e o exercício físico pode   aumentar o crescimento de novas células nervosas. O conhecimento de   mecanismos celulares e moleculares destas observações podem lever ao   reparo de cérebro com problemas devido a idade ou trauma.
Um   comentário no artigo da revista The Scientisit diz que enfim não se   trata de tanta surpresa assim. Entende que nada mais é do que um   alinhamento da descoberta científica com o que já é establecido pela   Escritura Hindu, o Vedas. Outro comentário fala da grande descoberta   científica, mas pergunta: será que isto do toque (mecanosensação)   original renovado ser um estimulador de neurogênese é realmente   surpresa?
É SURPRESA PARA VOCÊ???
Um toque de carinho renovado e neurogênico para você que aí se encontra.
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